quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Cartas de uma Apaixonada - A Quarta

Cidade, na noite chuvosa e fria de 19 de outubro de dois mil e onze.


Querido você,
O tempo mudou, não é mesmo? Que frio que anda fazendo.
Mas eu bem que estou gostando, sabe. É na busca do conforto que me encaixo, é onde encontro calor que me alegro. Quando finalmente encontro o perfeito equilíbrio, enroscada em meu maravilhoso cobertor, onde nenhum frio me atinge e finalmente sinto-me aquecida até por dentro.
Me sinto muito bem com esse espelho interior meu no céu, banhando as ruas, (a)juntando as pessoas. Tenho até começado a gostar do cinza, apesar de ainda preferir o azul celeste de quando é boquinha-de-noite.


Mas chega de mim. E você, como vai?
Venho querendo saber há muito tempo... Eu sei que nunca pergunto, mas é que não vejo motivo. Quero dizer,  você nunca irá ler. Nunca irá saber. Nunca vai me responder, então, qual o propósito mesmo?
Sei que você anda bem. (Na verdade, não sei, mas espero, de verdade, que esteja.)
Não tem nada de triste em sua vida, não é? E esse frio é tão bom pra quem já tem seu pé de meia, metade da laranja... Você deve estar feliz. Eu espero que esteja.


Ultimamente sua falta tem doído. Principalmente nesse frio. Mas tenho que dizer que minhas cartas me confortam muito, me apaziguam, me salvam do preto-e-branco que tem virado meu coração e meus pensamentos. É bom saber que posso dividir o que sinto. É como se uma chance ainda existisse, sabe? (Eu sei que não, mas quer, por favor, me deixar sonhar?)
Eu tenho percebido que as pessoas tem notado que eu não estou normal. Acho que tem, finalmente, visto e não só olhado. Porque as pessoas tem disso, sabe?
Olham, várias vezes, todos os dias, todas as horas, mas ver, de verdade, nunca viram. Deve ser até engraçado (pra não dizer trágico) ter consciência do problema de alguém e não só dos seus próprios. Quero dizer, ao menos comigo é assim. Não gosto da sensação de saber que alguém não está feliz e que eu não posso fazer nada por isso. É um sentimento de não-sei-direito-o-quê inútil.


Eu tenho imaginado muitas coisas por esses tempos. Tudo muito lindo, tudo muito romântico, tudo muito irreal. É bom. Eu gosto, pelo menos, e isso já faz valer a pena.
Um dia te escrevo meus devaneios. Os além desses, claro.
Você nunca vai ler mesmo.
Eu sei que deve enjoar, isso de cima, toda hora. Mas é uma espécie de mantra, entende? Ajuda a afogar as esperanças nela mesma. Uma espécie de corda que me prende a realidade e me acalma, também.
Não entende? Eu explico.
Imagine escrever tudo que estar em seu peito, sua cabeça, seu coração... Sua própria essência em um lugar.
Como você se sentiria se, exatamente a pessoa sobre quem e para quem você escreve... lêsse? Eu não me sinto bem nem com a idéia, imagine com o acontecimento em si.
É aquela música, sabe? "Eu gosto tanto de você que até prefiro esconder". Deixa escondido.
Você não precisa disso, mesmo. Sua vida, seu amor, sua história.
Como eu já disse antes, nada é nosso.


Com muito, muito mesmo, carinho,
de alguém que te quer todo o bem. 

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