domingo, 23 de outubro de 2011

Devaneios - Parte Dois

"- Eu sinto sua falta. - ele disse, me olhando nos olhos enquanto eu sorria e olhava para baixo balançando negativamente a cabeça.
- Não, não sente não. - eu disse com uma risada e ele meio que fechou a cara.
- Você não tem como saber. 
- Ah, tenho sim. - peguei sua mão cuidadosamente, com um sorriso, e coloquei-a em meu peito, onde meu coração batia desesperado só pela consciência de seus olhos nos meus, de sua mão delicadamente em minha pele e de sua voz assim tão de perto. Tão alto que eu temia que ele pudesse, agora além de sentir, escutar.
E então coloquei também a minha mão em seu peito calmo, onde seu coração batia sereno e protegido dos males do amor. 
Eu bem que não queria, mas meus olhos já estavam cheios de lágrimas antes mesmo de falar.
- Isso não é amor, meu querido, é querer. Querer bem. Sinta a diferença, já que não adianta falar. 
São bem parecidos mesmo, entendo sua confusão, mas ainda assim são completamente diferentes. 
Pode existir querer bem sem amor... o que não pode existir é amor sem querer bem."

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Devaneios - Parte Um

"O sol estava quente naquele dia, apesar de que chovia. Eu estava sentada em uma escada de algum lugar variado quando ela apareceu. Ela era eu. Mais alta, arrumada, cabelos mais longos e escuros e olhos um pouco cansados. Percebi imediatamente que eu chorava. Então ela se abaixou e sorriu triste pra mim, enquanto sentava ao meu lado. Meu peito doía, mas eu não sabia o porque. 
- É difícil né? Mas tudo bem, com o tempo não fica mais fácil, mas acostuma. Dá pra conviver. - me disse enquanto passava a mão pelos meus cabelos.
- O que aconteceu com a gente? - perguntei absolutamente derrotada pelo destino que as coisas tomaram.
- Perdemos o momento certo. E, infelizmente, ele não volta.
- A gente não pode fazer ele voltar? O que aconteceu com o amor?
- Está aqui... mas ele também sabe que o seu momento passou. Porém, se ele ainda permanece aqui, talvez ele saiba algo que nós duas não fazemos idéia.
- Como o que?
- Uma segunda chance, quem sabe? Ou um segundo amor...
- E se eu ainda quiser meu primeiro?
- Se eu fosse você, pensaria bem... Se fosse amor de verdade, esse segundo realmente existiria?
- Porque não?
- O amor não lhe dá alternativas, criança. Não é A ou B. É A e A e acabou. Não é que sabor de picolé que você quer, mas ter todo o carrinho e querer mesmo é sorvete. Dá pra entender? - ela me perguntou com uma careta engraçada. 
- Não. - eu sorri e ela também me sorriu em resposta.
- Exatamente. Achou o amor. Não faz sentido, não tem que fazer. Quando fizer, eu vou ser a primeira a deixar de amar. 
- Porque?
- Qual o propósito de ser tirada do chão com um cinto de segurança que te impede de ir muito longe? Eu quero voar! Pouco me importa se pra voltar ao chão eu tenho que cair.
- Cuidado conosco
- Porque, criança? Quando se ama, essa palavra quer dizer outra coisa. E, te sendo bem sincera, depois de tanta queda... Perdeu o sentido, também. 
O caso é que, depois de voar, cair não é nada. Apenas um choque de realidade á mais em uma sonhadora acostumada. 
Acredite em mim quando digo que todo o sofrimento tem algo por trás de tão bom quanto foi triste. Nada é em vão, pequena, apenas aguente um pouco mais.


Rimos, nós duas. Então eu acordei."

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Cartas de uma Apaixonada - A Quarta

Cidade, na noite chuvosa e fria de 19 de outubro de dois mil e onze.


Querido você,
O tempo mudou, não é mesmo? Que frio que anda fazendo.
Mas eu bem que estou gostando, sabe. É na busca do conforto que me encaixo, é onde encontro calor que me alegro. Quando finalmente encontro o perfeito equilíbrio, enroscada em meu maravilhoso cobertor, onde nenhum frio me atinge e finalmente sinto-me aquecida até por dentro.
Me sinto muito bem com esse espelho interior meu no céu, banhando as ruas, (a)juntando as pessoas. Tenho até começado a gostar do cinza, apesar de ainda preferir o azul celeste de quando é boquinha-de-noite.


Mas chega de mim. E você, como vai?
Venho querendo saber há muito tempo... Eu sei que nunca pergunto, mas é que não vejo motivo. Quero dizer,  você nunca irá ler. Nunca irá saber. Nunca vai me responder, então, qual o propósito mesmo?
Sei que você anda bem. (Na verdade, não sei, mas espero, de verdade, que esteja.)
Não tem nada de triste em sua vida, não é? E esse frio é tão bom pra quem já tem seu pé de meia, metade da laranja... Você deve estar feliz. Eu espero que esteja.


Ultimamente sua falta tem doído. Principalmente nesse frio. Mas tenho que dizer que minhas cartas me confortam muito, me apaziguam, me salvam do preto-e-branco que tem virado meu coração e meus pensamentos. É bom saber que posso dividir o que sinto. É como se uma chance ainda existisse, sabe? (Eu sei que não, mas quer, por favor, me deixar sonhar?)
Eu tenho percebido que as pessoas tem notado que eu não estou normal. Acho que tem, finalmente, visto e não só olhado. Porque as pessoas tem disso, sabe?
Olham, várias vezes, todos os dias, todas as horas, mas ver, de verdade, nunca viram. Deve ser até engraçado (pra não dizer trágico) ter consciência do problema de alguém e não só dos seus próprios. Quero dizer, ao menos comigo é assim. Não gosto da sensação de saber que alguém não está feliz e que eu não posso fazer nada por isso. É um sentimento de não-sei-direito-o-quê inútil.


Eu tenho imaginado muitas coisas por esses tempos. Tudo muito lindo, tudo muito romântico, tudo muito irreal. É bom. Eu gosto, pelo menos, e isso já faz valer a pena.
Um dia te escrevo meus devaneios. Os além desses, claro.
Você nunca vai ler mesmo.
Eu sei que deve enjoar, isso de cima, toda hora. Mas é uma espécie de mantra, entende? Ajuda a afogar as esperanças nela mesma. Uma espécie de corda que me prende a realidade e me acalma, também.
Não entende? Eu explico.
Imagine escrever tudo que estar em seu peito, sua cabeça, seu coração... Sua própria essência em um lugar.
Como você se sentiria se, exatamente a pessoa sobre quem e para quem você escreve... lêsse? Eu não me sinto bem nem com a idéia, imagine com o acontecimento em si.
É aquela música, sabe? "Eu gosto tanto de você que até prefiro esconder". Deixa escondido.
Você não precisa disso, mesmo. Sua vida, seu amor, sua história.
Como eu já disse antes, nada é nosso.


Com muito, muito mesmo, carinho,
de alguém que te quer todo o bem. 

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Cartas de uma Apaixonada - A terceira

Cidade, 18 de outubro de dois mil e onze.


Querido querido
Primeiramente, bom dia, boa tarde e boa noite. Já que nunca lhe vejo, acho justo lhe desejar logo tudo de bom, não é? 
Sabe o que eu me peguei pensando hoje? (Claro que não, mas me deixe sonhar, que até onde eu ainda sei, não custa nada) 
Em nós. (Tá, não é como se fosse uma grande novidade, mas leia o resto antes.) 
Quero dizer, nas conversas que nunca teremos, naqueles momentos que nunca viveremos, aqueles que a gente sempre sonha, sabe? Não sei se sabe, mas é fácil de entender. Toda garota (ao menos eu acho que todas) sempre tem dessas. Daquela linda conversa maravilhosa onde nós estaremos descabeladas, sujas pelas mais variadas coisas que possam ter acontecido, mas mesmo assim com um belo brilho nos olhos que ele fará questão de ressaltar. E ainda completar com um "você é linda de qualquer jeito, meu amor, não se preocupe".  No meu caso, como romântica incorrigível e fantasiosa que me orgulho de ter voltado a ser, foi algo mais ou menos assim:


" - Já disse que amo seu perfume? - murmurei com meu rosto escondido em sua dobra do pescoço, fazendo questão de respirar mais um pouquinho desse seu cheiro bom e sorrindo sem nem saber se dava pra você ver. 
- Não. - você dizia rindo enquanto me fazia carinho. 
- Eu amo seu perfume. - eu dizia, só pra ressaltar. 
- E eu amo você. - você dizia rindo enquanto me puxava para um selinho. Daqueles que você adora ficar dando vários. Era quando eu ria e fazia bico.
- Você nem deixa eu terminar, essa fala era minha. 
- Então fale.
- Eu que amo você. - E sorria. Grande, bonita, feliz, como não fazia há muito tempo, um pouco antes de mergulhar num beijo seu."


Eu bem gosto dessa minha imaginação. É louca, é. Faz sentido? Nenhum. Mas é tão minha, tão boa, que chega consigo fingir por uns minutinhos que é verdade. Faz bem, antes de fazer mal. 
Acho que é por isso que muita gente tem problema no amor. Ao invés de amar quem tem do lado, inventam uma pessoa pra si, idealizada, perfeita, de frases feitas e clichês. Ou até sem as frases feitas e clichês, mas irreal do mesmo jeito. 
Eu já fiz isso. 
Não me dei muito bem. Duvido que alguém já tenha se dado. Mas é que com você não é assim. Eu não sei, mas acho que meio que sinto que você seria bem assim. Você passa sinceridade pelos olhos e felicidade pelo sorriso. Que seja besteira de apaixonada minha, mas é o que parece. 
Só que é só você que sabe. 


Eu andei pensando se não estou sendo muito idiota com isso. Quero dizer, será que é besteira insistir? Apesar de que eu não estou insistindo. Você tem sua vida e eu nunca me intrometi nela, e nem pretendo, na verdade. Então, será? Porque o amor é meu, o problema também e eu nunca quis colocar você no meio deles. E apesar dessas cartas serem pra você, não quero que as leia. NUNCA. De jeito nenhum. 
Já pensou na confusão que isso pode causar? Não, não mesmo. 
É como eu disse. Sua vida, seu amor, sua história. Não nosso, não nossa. Nada compartilhado. Cada um em seu quadrado, não importando se o que eu queria é que tivéssemos um retângulo, isso sou eu
Nada de nós. 
(Não sabe como me dói dizer tanto isso, mas é preciso. Deixo bem claro que não tenho esperanças tanto para você quanto pro meu coração. Já disse que ele é meio surdo né? Pois'é.)


Vou dormir. Acho que já tá mais que na hora de ir sonhar um pouco. É bom, faz bem. Recomendo a todos. 


Com amor, 
de alguém que te quer - muito bem

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Cartas de uma Apaixonada - A Segunda

Cidade, alguns minutos para o dia 17 de outubro de dois mil e onze.


Querido loving-one,
irei começar bem simples, porque sinto que devo dizer que odeio esse horário de verão, você não concorda comigo?
Acaba com meu já pequeno tempo de internet, me fazendo ter que escrever toda essa segunda carta nesse já bem acabado caderninho verde que encontrei por aqui.
Bom, tenho muito a dizer, mas a verdade é que não sei bem como. É tudo muito sofrido, muito pesado para uma segunda carta, então deixemos esses assuntos para lá e vamos falar sobre nós - o que normalmente seria considerado o mais pesado, mas o que eu tenho a falar é bem leve, maroto e doce. Tipo sonho de criança.
E, bem, foi um sonho.
E dizem que o amor nos torna crianças, então, quem sabe?
Era numa fazenda, esse meu tal sonho. Ela nem era tão grande, mas era bonita, arrumada. Bem familiar, bem bom, sabe? Tinha nós dois juntos.
Bem gostoso, bem certo.
Bem sonho.


Eu acordei bem, mas fiquei mal. Seria eu sonho capaz de se tornar real? Eu sei que não, mas é que meu coração é surdo entende? Creio que é de tanto bater apertado, mas quem sabe?
Você anda fazendo mais falta que o normal ultimamente. Isso eu nunca senti, sério. Muito, demais mesmo.
De me fazer chorar do nada. De me entristecer pra tudo. Porque sua falta é diferente. Ela não termina, ela é da primeira hora do dia até a ultima da noite e continua no outro dia.
Ela não tem dia pra acabar. Ela não acaba domingo ou sábado pra voltar segunda. Ela nunca passa. Fica sempre aqui.
O amor seria mais fácil sem isso de saudade, mas seria um pé-no-saco também. Como amar sem sentir falta? Como amar sem o "quero te ver"? Impossível, na minha mera opinião.
E a minha é grande viu? Sempre me pego perguntando pra mim mesma se o dela, que está ao seu lado, chega a ser assim também. Eu sei que não tenho nada com o que comparar para ver se é tão grande quanto parece, mas é o que sinto que me diz.


Queria tanto ouvir sua voz. E olhe que eu a tenho, mas não é a mesma coisa. Não funciona do mesmo jeito.
Queria você em qualquer lugar. Pra que tanta tecnologia se você se afastou de todas? Só queria bater papo, jogar conversa fora um pouquinho. Só um pouquinho. Não precisa ser horas... mas uma hora apenas, não mata.
Sei que nem posso pedir isso. Fui eu quem sumi.
Eu que deixei isso acontecer. E porque?
Por medo.
Que coisa mais besta né? Faz perguntar "Medo de quê, ô idiota?". Mas foi medo. Medo de perder minha liberdade e de acabar que nem eu estou agora: Apaixonada.
Você conseguiu. Meus parabéns. As palmas são todas pra você.
Você quebrou todas as minhas barreiras no primeiro verso. E eu que nem pude fazer nada, me apavorei.
Me ganhou no sorriso. Me perdi na mesma hora.
Ainda estou, na verdade, e creio que mais agora que percebi que tudo que fiz em foi em vão.
Ainda estou aqui.
Barreiras no chão.
Sem salva vidas, botes... Acabou essa coisa de afundar e sair nadando; Aqui, quem se afunda, se afoga.
É, me perdi.
Perdida, é bem como estou.


Com todo o mesmo amor guardado de antes, 
Alguém que te quer muito bem. 


P.S: Fico feliz em informar que chegamos ao dia 17. Há muito tempo, na verdade.

Cartas de uma Apaixonada - A Primeira


Cidade, 16 de outubro de dois mil e onze.

Querido loving-one,
começo a primeira carta de várias que nunca serão entregues ou lidas por você de um jeito bem simples, pedindo mil desculpas. Porque a situação em que nos encontramos é, completamente, minha culpa. Não acho que você me deixaria dizer isso, não faz seu tipo (nunca mude, isso é lindo), mas você, assim como eu, sabe que é a verdade. Ela dói como dizem, é. Mas ainda é, também, o melhor remédio.
Isso dito, sinto que tenho que também avisar que você não deve se sentir responsável de jeito nenhum sobre os meus problemas (já que também fui eu a causadora deles), porque eles são meus. M-e-u-s. Do mesmo jeito que é minha a dor e meu o arrependimento. Entenda que o amor não é um contrato e que receber um "eu amo você" de alguém não requer um "eu também" de volta. Não é assim que funciona. Um "eu te amo" é, em sua forma mais pura, a aceitação do fato de que todo o amor de certa pessoa (nesse nosso não-caso, eu) para outra (em meus sonhos, você). Então não se sinta culpado, coagido e, muito menos, de alguma forma devendo-me algo. Isso não tem nada haver. Você tem sua vida, seu amor e sua história. Nada disso é nosso. E esse amor também não, ele é meu, só meu, e mesmo que vire sofrer, ainda quero que continue meu.
Não sei se você entenderá, eu sei que não faço sentido na maioria do tempo (você também bem sabe disso), mas eu não me importo de explicar.
Demorou tanto tempo. Mas tanto tempo, antes de você finalmente chegar, que me sinto, mesmo que triste, agradecida. Obrigada, loving-one, por me dar o que eu tinha perdido a muito tempo. Minha fé. Eu tinha abandonado totalmente esse meu lado sentimento, meu lado amor, carinho, saudade, amor, amor, amor, choro, mais amor, mais carinho, loucura e falta, que agora que ele voltou, mesmo que machuque mais que tudo, não quero que ele vá embora. Ele é meu e faz parecer que um pouco de você também.
Me desculpe se isso te incomoda, mas por mais que eu ligue que qualquer coisa faça isso com você, essa é minha exceção. Não posso ajudá-lo com isso, isso é meu. Meu direito, meu único prêmio por gostar tanto de alguém que já não gosta tanto assim de mim.
Não estou pedindo nada, longe disso. Não misture as coisas. Não se preocupe, também.

Minha primeira carta é bem simples, bem diferente de mim, não é? Ela é só um pequeno desabafo de meu peito carregado. Não se preocupe com ele.

Com muito amor guardado,
de alguém lhe deseja todo o bem. 

P.s.: Não ligue para essas cartas. Viva sua vida que do jeito que tiver que ser, será. Ou já está sendo?